Empresas de refrigerantes estão reforçando a oferta de produtos sem açúcar, para acompanhar a busca do consumidor por bebidas mais saudáveis, mas as vendas do segmento também estão encolhendo, seguindo a tendência do mercado total.
De acordo com dados da Nielsen, o mercado de refrigerantes caiu 4,7% em volume no acumulado de 12 meses, até agosto. A categoria de refrigerantes sem açúcar, ou com baixo nível desse ingrediente, caiu 1,7%. A participação dos refrigerantes com pouco ou nenhum açúcar no mercado total chegou a 5,7%, ante 5,5% nos 12 meses anteriores.
“É um bom desempenho, em comparação com o refrigerante regular, mas em relação a categorias [de bebidas] consideradas mais saudáveis, o desempenho é inferior”, afirmou Domenico Tremaroli, diretor de atendimento da Nielsen. Ele observou que, no mesmo intervalo, houve crescimento em volume nas vendas de água de coco (10,9%), chás prontos (6,5%) e sucos prontos (2,4%).
Entre os maiores fabricantes, a Coca-Cola Brasil tenta fortalecer a linha sem açúcar da sua principal marca. Entre 2016 e o início deste ano, a companhia tirou do mercado a Coca-Cola Light, a Coca-Cola Life (adoçada com stevia) e a Coca-Cola Zero. Todas essas versões foram substituídas pela Coca-Cola “sem açúcar”.
Andrea Mota, diretora de sustentabilidade e valor compartilhado da Coca-Cola Brasil, disse que a mudança faz parte de uma decisão global, tomada pela companhia em 2016, de trabalhar com o conceito de marca única. Todas as embalagens agora são vermelhas e a versão sem açúcar contém uma tarja para chamar a atenção do consumidor.
“Houve uma conclusão de que, talvez, o consumidor ficasse confuso com muitas opções. E o Zero não deixava claro se era zero açúcar ou zero sódio. Além disso, a expressão ‘sem açúcar’ é curta e autoexplicativa”, afirmou Andrea. A Coca-Cola Brasil fez uma ampla campanha de marketing em 2016, para anunciar a mudança de estratégia. Neste ano, porém, não fez ações para explicar a conversão da bebida “Zero” em “Sem açúcar”.
“A introdução da versão ‘sem açúcar’ sem maiores alardes foi uma maneira de minimizar o inevitável questionamento sobre o polêmico uso de adoçantes, e uma tentativa de fazer uma transição mais suave”, disse Daniella Bianchi, diretora-geral da Interbrand.
A Coca-Cola também tirou o açúcar da Sprite regular em 2017. E reduziu a quantidade de açúcar da linha Del Valle Frut em 25%, do Guaraná Kuat em 27%, e da Fanta em 25%. Neste ano, a companhia entrou em mais duas categorias de bebidas sem açúcar: água de coco, com a Del Valle; e uma bebidas gaseificada com suco de frutas, com a marca Yas.
A concorrente Pepsico também reforçou a categoria de refrigerantes sem açúcar, com o lançamento, neste ano, da Pepsi com sabor de gengibre. Procurada, a companhia não quis comentar o assunto.
Os refrigerantes da Pepsico são envasados e distribuídos no Brasil pela Ambev. Annelise Alves, diretora de inovações da Ambev, disse ter visto neste ano um crescimento de 10% nas vendas de refrigerantes sem açúcar, estimuladas pelas linhas da H2OH, da Pepsico. “H2OH e Coca-Cola sem açúcar impulsionam o mercado”, afirmou. A executiva também disse que as vendas do Guaraná Antarctica sem açúcar “têm boa performance”.
No primeiro semestre, as vendas da Ambev de bebidas não alcoólicas caíram 10,4% em volume, para 1,12 bilhão de litros. A receita da categoria cresceu 1,2%, para R$ 1,723 bilhões. A maioria das vendas é de refrigerantes. A Ambev também busca reforçar a oferta de bebidas sem açúcar, mas em outras categorias, como chás e água de coco, com a marca Do Bem.
A Heineken, dona dos refrigerantes Viva Schin e Itubaína, não quis falar sobre seus projetos com bebidas sem açúcar.
A Euromonitor International estima que o mercado de refrigerantes com nível reduzido de açúcares ou dietéticos vá encolher 1,6% em valor neste ano, para R$ 2,09 bilhões. A Coca-Cola lidera o segmento, com 63,6% de participação, seguida pela Ambev, com 25,1%, e pela Pepsico, com 7,8%.
“O mercado continua caindo neste ano, sofrendo com a economia estagnada e a redução de renda per capita das famílias. Há também uma migração do consumo de refrigerantes para outros produtos, como água com sabor, sucos, chás e outras opções”, afirmou Alexandre Jobim, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (Abir).
Fonte: https://www.valor.com.br/empresas/5914523/refrigerante-sem-acucar-ganha-reforco
Água saborizada cresce e atrai novos competidores
No momento em que as empresas de bebidas buscam alternativas de produtos para compensar a queda nas vendas de refrigerantes, a produção de águas saborizadas começa a ganhar corpo no país. A categoria será disputada por grupos que antes não rivalizavam entre si, como Danone, Grupo Edson Queiroz, Coca-Cola e Pepsico.
No mundo, a venda de água saborizada vai crescer 5,3% neste ano, para 11,19 bilhões de litros, de acordo com dados da Euromonitor International. No Brasil, a estimativa é que a categoria cresça 0,6% em volume, para 354,4 milhões de litros, e 2,3% em valor, para R$ 2,97 bilhões. “Essa categoria era vista como um refrigerante de baixa caloria. Recentemente, o consumidor começou a enxergar a água saborizada como uma bebida mais saudável e menos próxima do refrigerante”, disse Angélica Salado, da Euromonitor International. Para ela, a categoria vai crescer nos próximos anos, substituindo uma parte do consumo de refrigerantes.
A Coca-Cola investe na área desde o fim de 2017, com a marca Crystal Sparkling. A linha começou a ser vendida nas opções limão e camomila, tangerina e capim limão. Neste mês, chegam ao mercado versões de limão e frutas vermelhas. “Percebemos que há uma demanda por sabores mais simples, próximo de hábitos que o consumidor já tem”, afirmou Luiza Rossi, gerente sênior para água e chá da Coca-Cola Brasil.
A marca já foi lançada em seis Estados (São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul). A meta da Coca-Cola Brasil é ampliar a distribuição para Rio de Janeiro e Nordeste em 2019. Luiza disse que, apesar de ser uma categoria incipiente no Brasil, a água saborizada cresce de forma acelerada em outros países. “Nos EUA, representa 10% do total de água engarrafada.” Na categoria de água saborizada, a Pepsico trabalha com a marca Drinkfinity, bebida vendida em pequenas cápsulas com combinações de sabor e nutrientes. Essas cápsulas são acoplados a uma garrafa própria e misturados com água. Os sabores são variados e enriquecidos com vitamina C e zinco, complexo B, cafeína, eletrólitos e camomila, dependendo da composição. Sem citar números, a companhia informou que as vendas da marca “vão bem no Brasil”. A empresa não considera a H2OH como água saborizada, porque leva suco de fruta na composição.
A Danone Águas do Brasil quer repetir no país o sucesso que tem na Europa com água saborizada. No fim de setembro, lançou uma linha com a marca Bonafont, com sabores de limão cravo e limão Taiti, e abacaxi com hortelã. “O varejo recebeu bem a novidade”, disse Rafael Ribeiro, diretor de marketing da companhia. Ele não divulga projeção de vendas no primeiro ano da linha.
Antonio Vidal, superintendente da Minalba Brasil, negócio de águas do Grupo Edson Queiroz, informou que a empresa planeja lançar linhas de água saborizada em 2019, com a marca Minalba. A Ambev, dona do Sucos do Bem e da água Ama, avalia investir em novas categorias de bebidas, incluindo água saborizada, “se fizer sentido dentro do portfólio”, disse Annelise Alves, diretora de inovações da companhia.
Fonte: https://www.valor.com.br/empresas/5914517/agua-saborizada-cresce-e-atrai-novos-competidores